domingo, 28 de dezembro de 2014

O amor de Melissa




Durante a infância Melissa não entendia o quanto buscava em si a certeza de toda felicidade que trazia consigo. Antes de reencarnar pediu para ser especial a sua missão na Terra.
Nasceu filha de pais importantes. Pessoas que encontraram seus caminhos em ofícios artísticos, era assim descendente de dois tipos de elite: intelectual e artística. Melissa tinha sensibilidade demasiada já aos 8 anos aprendera a tocar um instrumento, não tinha noção dos dotes que foram ressurgindo de outras vidas. Se sentia mal. O fluxo criativo era maior do que a maioria das pessoas que estavam em sua vida. Começou a se boicotar, a sofrer, a ver e sentir limites nas habilidades que já dominava. Era como repetir de ano e ter paciência para acompanhar pessoas que engatinhavam.

Seus pais mudaram de cidade, para um lugar mais possível para Melissa. Mas quando chegou no seu primeiro dia de aula todos olharam com estranheza para ela. Foi assim que percebeu que o formato do seu rosto era diferente. Melissa tinha síndrome de down. Para ela não era doença, pros outros sim.
Melissa era especial e não entendia a vida estranha que os outros levavam.

Era difícil entender o ritmo das pessoas ao passo que cada vez era menos carne e mais espírito. As pessoas faziam movimentos contrários. A festa do mundo era quase um tormento. Viver era solitário e solitário não era ruim. Era preciso se guardar na solidão para realizar os projetos que tinha por fazer aqui. Desde cedo sabia os propósitos registrados em sua alma. Era preciso entender o mundo e se encontrar nos lugares certos para conseguir desfazer as promessas e não vagar de forma perdida por uma encarnação. Para isso era preciso se afastar de preocupações vazias e se encontrar o raciocínio e das influências positivas. Abster-se do prazer puramente carnal. Entender e estar com as pessoas era importante. Fazer trocas de impressões dessa e de outras vidas. Reencontrar laços de afeto pois o amor é o centro da motivação do universo. Quando havia a rejeição por incompreensão é preciso amar mais ainda. O amor compreensivo de quem sabe que pode ser maior do que a falta de escrúpulos e a hipocrisia gratuita.

Nada mais elegante do que poder ver além sem ferir e ferir-se com a incompreensão.
Melissa foi uma mulher afortunada por valores. Era mesmo um ser especial.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Flor de pitanga







Naquele dia sentamos diante da chuva fina, o cheiro de terra dentre o teu casaquinho mostarda. Sentia o cheiroso daquele perfume, uma fragrância de qual me retorna no corpo de outras pessoas. A necessidade de ter mistérios dentro desse apego. Viver para não encontrar. Só de olhar de longe o teu passadio estendo todas vísceras do conforto que me passas.
Parece que vim pra te observar, acompanhar o fluxo da tua jornada, sabendo da nossa ligação de tempos. É como tentar entrar no mar e tentar preencher todo espaço. Perceber além do recorte e ter todo o oceano sem calcular nenhuma métrica.
sentimentos libertos,

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Velas todas acesas

E assim todas a velas se quedaram acesas.
Que a saúde esteja sempre pronta, e o amor? Ah... sempre!
Que venha 2005!

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

As cinzas

Adoro quando você vem e me acomoda no meu desespero.
Nasci com as golas alvas e engomadas.
Irreversível é não cortar os tecidos em alta costura
E ter que fumar cigarros baratos
Por tabela.

Quando já se é ambidestra
Se tem  pulso certo
Para tantas horas
O olho fixo
No vão





sábado, 20 de dezembro de 2014

Onde anda o fino da bossa?



Mundos prolixos
esquecidos

Entre peças desconexas
Pessoas em trotes descompassados

E eu passava horas
enfileirando os cigarros
olhando não mais com os olhos

A vida que nunca toca

a permanente névoa
nas lentes de contato

dispensei os óbvios
.
recusei padrões
.
derramei em mim o líquido da placenta
.
minha placenta
.
.
.

Agora 

observo sem pudor
quase tudo 
que me cansa


Pessoas 
repetidas
repetem
a vida

Pessoas com senzalas na cabeça
Acumulando 
medíocres sensações.

oculta
a alma
elegante
que observa.







segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Tempo de contar.

Acordava todo dia
com a roupa do passado

Difícil se situar em uma só vida
Regressão parece bem rotineiro

Tempo outro
E ainda precisamos
contar os anos e os sonhos.


domingo, 14 de dezembro de 2014

Regresso

Capítulo II

Seraphine se abaixa para colocar o balde na cabeça. Não demoraria muito e a senhorinha estaria pronta para o banho. O vestido alvo sobre a cama era tudo que Seraphine sempre sonhou para sua querida Gisele, mas não tinha meios para sair daquela vida de pobreza. Gisele nunca reclamava nada para mãe, pois sabia conviver bem consigo e não via na pobreza nada mais além do que a falta de roupas finas e de uma cama mais macia. O trabalho na cocheira não era amargo. Cuidar dos cavalos sempre fora um prazer muito grande e não se importava de ter patrões, afinal eles eram tão bons com ela e sua mãe. Quando o senhor vinha da cidade sempre trazia folhas de papel e lápis, pois tinha gosto em ver Gisele escrever frases muitas vezes nunca imaginadas por alguém que nunca saíra das redondezas. A maioria das frases falava de uma atmosfera parisiense, de formas rebuscadas com detalhes finos e de perfil clássico. A letra de Gisele era algo surpreendente. Era bem desenhada, por isso, espanto para todos que a conheciam. Pois Gisele nunca tinha sequer pisado numa escola e nem tido oportunidade de frequentar lugares luxuosos.
De dia, era normal vê-la nos arredores da cocheira e à noite, à luz de uma vela, sentada na mesa da cozinha da casa grande, ali passava duas, três horas escrevendo. Dizia à sua mãe que escrever era algo que poderia sempre modificar e criar, já que a vida ainda não lhe reservava tal poder.
Seraphine, apesar das poucas condições, tinha um bom gosto muito grande e tudo que a adornava dava-lhe uma sensação de requinte. Sempre cultivava o corpo e possuía uma educação impecável. O que dava muito gosto a Gisele, que apesar de não saber muito sobre sua mãe, admirava-a e encontrava em seus traços delgados uma herança europeia.
A vida na fazenda se dava tranquila. Patrões bons, que gostavam de boa música e fartura. Praticamente viviam da colheita do café. Ao redor da casa principal existia um vilarejo em que moravam os trabalhadores. Seraphine e Gisele eram as únicas que moravam ao lado da casa grande. Seraphine desde que voltou da França passou a cuidar de Elizabeth, a senhorinha da casa.
Gisele escutava de Samuel palavras duras que a excitavam. Homem grosseiro, mãos hábeis a uma forma de carinho absolutamente bruta. Entretanto precisava de uma esposa e não tinha isto de Gisele. A cada vez que se desnudavam e se jogavam entre a grama, sentiam um prazer demasiadamente sem escrúpulos. Dessa forma, Gisele sentia-se sexualmente realizada e cada vez mais livre. Não necessitava nada mais do que os encontros animalescos com aquele homem. Achava a vida muito simples, sem casa, sem filhos, sem marido. Era instintiva e sem vínculos afetivos com ninguém. Gostava de se igualar aos cavalos. Gostava de sentir os cabelos pesados sobre as costas num ímpeto selvagem. Ao mesmo tempo que dava bastante importância aos requintes de sua mãe.
Ao redor da fazenda existiam diversos tipos de árvore e uma estrada longínqua que levava até a cidade. Não existia barulho a não ser dos trabalhadores na lavoura e dos pequenos bichos. A noite era preenchida por um céu limpo cujas estrelas brincavam com a vista de quem se deitava na relva para passar o tempo. A solidão não era conhecida pelas pessoas que tinham se acostumado com a calma. Para Gisele era ainda mais interessante, pois não tinha noção do que era o ritmo fora dali. Mas era vasto o que sabia por Seraphine e Elizabeth. Sabia que uma hora a vontade de conhecer lugares iria ser forte. Mas não tinha pressa. A única coisa que pensava no momento era satisfazer seus desejos mais primários. A necessidade de roupas delicadas não passava por sua cabeça. Não tinha maiores problemas com o que possuía mesmo sendo muito pouco. A pequena felicidade que tinha vinha de um anseio que estava sempre ao seu alcance. Para Seraphine, toda aquela satisfação por aquela vida brejeira era algo bom, mas algo ia acontecer no decorrer da vida para que ela aguçasse a vontade de explorar, de se comunicar com o mundo.




sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Olhos de dentro

Espiritualmente a cor

Os corpos iluminados
tua cor, tua aura,

Entre peles
um caracol
um casulo
um pulso

o arrepio
dorme comigo

o esmalte
o dia posto

As luzes
ambíguas
um certo contorno
lilás.



terça-feira, 9 de dezembro de 2014

As mãos soltas no mar

No trem,

na boa confusão de uma vida.
amada vida.


O meu quarto está dentro da casa
habitado pelo abstrato.
Estou  bem dentro da vida.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Amor de férias,

Amor

Num minuto
O pranto desfaço
Pois o amor desnorteia meus medos
E me envolve como um ninho

De aconchego,



segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Não está num par de botas, a vida.

Em mim
A minha Tia

As flores amarelas
bem dentro da Ilha
Bom gosto de Tia

Tremores
Nervos deflagrados
A Sensibilidade
sensata
versos de Chico, Pessoa
A voz de Fagner,
de Elis
De Bethânia

O bom português
que ensina
e critica

Beleza hermética
café
e a cinza do cigarro

Introspectiva jornada
visão
milimetricamente
dopada
Impedimento aflito

Copos de mágoa
Traumas
Dissipa, decepa


O pensamento maior
mente
O pensamento expande
cura

Saudade não esquivada
Lágrimas sem rebate
limpa a dor

Em teus carnavais,
nas crises
nos sinais

A ligeira
certeza
de tua vida

Especial demais.




domingo, 30 de novembro de 2014

Tarde de ressaca





Tecidos bordados em camas que não se podem dormir.
A goma esticada, beleza que não pode vestir.


Sentava debaixo da mesa com o prato de goiabada com queijo enquanto dona Carminha passava e engomava a roupa do dia. Adorava aquele carinho doméstico. Passava tardes e tardes na tranquilidade da minha vida colégio e nada mais.

A tarde é um tempo. Que cabe num dia. Que digere em entrecorte o manhã e o anoitecer.
Uma marcação bem bate estaca.

Tardes na varandinha
chão quente do sol da manhã.
Sensação da ressaca de quem veio do mar

A flauta,

A verdade num lampião
de lata de leite ninho
o ressonar dos morcegos
dentre as folhas de jambo
espionando a noite

Amanhã tem escola
e toda aflição de entornar
o cedo do dia
o enjoo refletido
na rotina de farda
tecido pesado
calor insuportável
do meio-dia

A tarde de volta
a remendar a vida
Barro tomando forma
Depois da fornalha

Descompressão

Alinhamento
do conforto
mental

Cochilo
a sombra
a brisa
o chiado
a cigarra

solidão bem vinda
infância
Introspecção

Amizade
Entre o primeiro e o terceiro
andar

Patins em rua de terra
marcando as rodas
O jogo de bola
Thiago e Mariana.









sábado, 22 de novembro de 2014

De noitinha encostava as costas na cadeira que levava pra calçada.
Mãe já não vivia mais e casa só de mim costumava. Tomava um banho e tirava a alfazema de dentro da cômoda, prendia as pontas do mosquiteiro nos lastros da cama. Pegava o cigarro que desde muito cedo enrolava. O cheiro e o gosto do fumo amolecia o espinhaço da rotina crua que misturava o profano e o espiritual.
Na redinha da sala lia tudo que os compadres da cidade traziam. Tinha muita leitura que me divertia. Ajeitava a gola da camisa, recuava os olhos estremecendo os músculos e a espinha. Sentava-me na beira da cadeira, pousava o cigarro na boca seca. Levantava-me como quem se prepara para não morrer. O passado começava a reconstruir-se dentro de uma espera. Tocava com o polegar e indicador o pingente em seu bósforo. Fechava os olhos e esperava um pouco todas as falácias se aquietarem e por momentos sentir o forte apego por sua voz. Ela estava ali misturada dentre a ressonância das outras vozes. Muitas vozes. A reverberação e a distinção de tudo que faz sentido.

Ficar só é cintilar e perceber o ciclo.



quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Cecília vivera mais




Dias sem o tempo e a complicação das ruas da cidade, do cheiro irritado e miserável de quem busca o que nem sabe achar. As migalhas dos lugares ocos, os porres de uma vida amarga. Era mesmo um nervo a cada cigarro e no findar do dia, sobrava a expectativa de um amanhã diferente. O sabor da sujeira na alma era o pior de tudo depois de passar por tanta gente que traz a mediocridade nas veias as feridas expostas. Então mais um cigarro para ver que quem está do lado é mero prazer sobrevivente que levanta da cama antes que a noite acabe. A mais louca ilusão que sentia Cecília, o vazio.
Era assim que voltava para casa, exausta, sentada no banco do ônibus e fumava o último cigarro daquela madrugada. Nesse instante  parou e lentamente olhou para si como se desconhecesse aquelas mãos, as unhas num vermelho vivo, estava cansada de tudo. Mais uma vez não entendia por que estava voltando ou  por que procurava aquele apartamento do outro lado da cidade. Não era seu mundo. A começar pelos sobrados de cômodos claustrofóbicos. Talvez aquela realidade fria trouxesse algum prazer, ou quem sabe a forma com que todos ali buscavam a felicidade. Era  como se os impulsos inquietassem mesmo a vida. Não querer entender, apenas sentir. Isso era tão importante.Foi assim que Cecília sentiu Antônio, como um devaneio a cada semana no cúbico espaço em que morava.
Amor bruto. Se é realmente esse o nome do devaneio mais inimaginável de Cecília. Mulher sensível a buscar o gosto de um homem de barba mal feita.
E como num ritual uma vez por semana, chegava e sabia o quanto era bom esperar Antônio e seus rompantes eufóricos e as mãos que tocavam suavemente. Euforia que se traduzia numa intensidade lenta a percorrer a noite.
A verdade é que para Antônio ela era o amor que nunca teve. A mulher doce e sensível de traços delicados.
E nesse medo de perder e mais ainda no de se achar é que Cecília começara a perceber naqueles olhos o que chamara de bruto amor. Era mesmo bruto, pois o que não tinha amarras, apavorava.
Era a falta de limites, sentir, mas a sensação de liberdade não existia. A ilusão de que podia chegar e sair sem hora e sem ninguém a lhe cobrar mero gesto de apego.
O fato é que nunca conseguiu entender que fugir fosse pior do que esperar o dia amanhecer e aceitar o quanto queria voltar quando a noite batesse.
Bruto amor era não se deixar.
Não sentir o gosto da água nos lábios ressecos de tanto falar em silêncio, era negar apego tão grande por quem só lhe fazia bem.
Mas como estranhava tudo quando deixava aquele canto. Mas do que nunca criara dentro dela aquele lugar que respirava o silêncio do
mundo. Forma insana de amar. 

Cecília vivera mais, o que não tinha de ser.


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A paixão nasce como quem vive.


Os planos como estão na cabeça, como areia, que às vezes montam figuras e outras se embaralham e não tem sentido tão certo. Os escudos estão todos nos punhos, todas as mortalhas desembaralham e o futuro segue como pasto. O celeiro descomunal cheio de revanches. Ando e ando por um mundo com tantas pessoas e tantas pessoas genéricas. Recorro a pecados que se podem ser revelados. Avanço sem os conselhos alheios e me alheio a uma fartura de pensamentos. Eu vivo com tantos pensamentos e tento não me carregar de ninguém. Assim saio de todas as salas com quartos na cabeça mas nenhuma perspectiva. Nenhuma criatura e apenas a lembrança de uma bicicleta que vai bem longe e uma pessoa que carrega o que não quero mais saber.

Pessoas demais começam a me incomodar. Estou bem certa de toda a vaidade que quero, estou tão solta e passo horas tentando perder as horas, tentando entornar o sangue dentro de cada vontade de não falar quase nada.

O passado estatelado como o asfalto de Nelson, a opinião não me assusta e nem a historinha dos sexos dos anjos. A paixão nasce como quem vive. A natureza é tão digna e fiel ao amor que não negrita e permanece inteiro. Deita em mim, amor preferido. Me tira os pedais, me deixa deitar e encontrar pouco a pouco toda a minha verdadeira vida.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Fantasia

Romper com a caricatura
Com o EGO
complacente

Romper com
A CULPA

com a culpa, culpa
Se afastar
do EU
e do OUTRO

Se afastar do
OSSO

SER forte
e amargo.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Um par sem filtro



Eu queria tanto ser tua amizade
Para te olhar em acompanhamento
Para saber da tua oração diária
E por assim,
Desembaçar a liberdade
Anteposta ao teu sinal de vaidade

Queria ver os teus chinelos
Virarem os saltos
Invulgares, delicados
um cavalo

em trote elegante.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Pensar em Marrakesh






Agora eu caminho e caminho acima da atmosfera.
Vivo criando e recriando tensões superficiais
na água não me afogo
Ando fechando todas as valas e deixando a indigência pra trás.

Começo a gostar.

Encontro os destemperos, eu comungo e danço
das donzelas e dos aflitos.

Eu penso em palavrões demais.

Enquanto eu me acostumo, assim como preparar o fumo dentro da palha
espero a tua chegada

Eu tenho uma marca na moleira.
Tenho um passado desgraçado.

São tantos panos na manga.
ânsia
medo
ânsia
medo
de perder o tino
de estar dentro
da vida.






terça-feira, 4 de novembro de 2014

A tua presença

O silêncio cansado
daqueles que não leva a nenhum sentido.
Aos quase 32 anos,
Já necessitei
dos teus quadris,

Dentre um passado
entre os limites outros
descobri
a ter amores
e não continuar
pelas calçadas
que reprime
e imprime todo
todo meu descontentamento.


sábado, 1 de novembro de 2014

Era uma vez uma apatia

Olhava-o sempre de longe. Ele era uma pessoa bonita e apático.
O que tinha de constância, de opaco de água e pão.
Altamente necessário para ocupar um posto bem singelo no meu peito.
Era toda certeza que que não queria pra mim, sabia exatamente os seus atos e toda falta de atitude.
Um homem que nasceu de barba, algo de velho em plena juventude.
Era nada do que queria neste momento.
Uma pessoa premeditadamente sem delírios. E essa vida é chata demais pra suportar e ter que cozinhar em banho-maria.
Tantas camisas brancas a pendurar no varal.

E o meu vazio descompassou bem dentro da ironia.
O meio termo, por favor. O preto e o branco revesando nos meus desvarios.
Atitude esta de colocar
viajantes no meu quintal.
E eu loucamente assustada nesse mar insípido, jogando silêncio no rio que não aguentava de tanta revolta.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Diário

Cecília, deixa eu ficar bem calada.
Ando amando a vida.
Nada mudou
Foi apenas a minha necessidade
de encontrar pessoas
que secou.
Gosto tanto de ficar só.
Acho estou em entrecorte.


domingo, 26 de outubro de 2014

Uma sabiá.

Não descuide da minha memória
De pouco fui retirando
a trava dos dentes

2005 me deixou tanta coisa
que aos poucos foram transformadas
Hoje eu lembro de toda a minha inquieta luta
A muito custo
E tão silenciosa..

Um dia um colega do curso de psicologia
disse que minha música era Sabiá..
Essa eu sempre lembro..

Afinal o que eu quero é nunca mais passar por certos perrengues.
São quase 32 anos... tem muita vida pela frente.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Um corpo disléxico








Quem sabe um dia meus humores não se estiquem
entre movimentos downs
Que eu seja só projetos bem sucedidos
Seria mesmo um bom caminho
para optar por um orgulho desses que se não abalam

Pois quando me vem a certeza de que devo
encostar todos os meus planos num canto
e tirar um cochilo

Me largar de uma certa soberba
de que eu tenho
amamentar meu corpo
com doses sinceras
Recorrer aos carinhos antiobserváveis
da vida

Acostumar-me
com o brincar
do ego
que tudo pode
que nada pode

Afinal o que vim fazer por aqui?
Acho que observar os homens
e amá-los
independente de
planos e vitórias.

Isso tudo parece que se esvai
Tem quem diga...

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Os mesmos





São tantas palavras
que guardo

Necessidades minhas
que não cabem nesse mundo

E eu sentada
a esperar
por uma oportunidade

O vagão
e pessoas demais

Pessoas
copiando fórmulas
para entender a vida

repetindo vidas e vidas
herança
tão particular
nesse mundo

Os pensamentos
recolhidos
em um propósito
automático

Vivendo
de abrigo
se ausenta
pessoas
imitando
pessoas

A minha alma
segue enjoada
com tantos
homens
iguais.


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Voltando

Tirar qualquer objetivo das costas

Pessoas demais cabem em mim,

Pois tudo cansa e cansa.



Deitar na parte mais confortável de mim.
e retirar dos nervos quaisquer expectativa.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Ilha

Chamam de vida o mistério da água
A água tão nobre
Cristalina e viva.

Queria ser um pedaço do mar
mas de quantos pedaços ele se completa?
Não quero mais saber.

Não quebrar a fina cama
não quero me interpor a você.
Necessito da distância inexata.
Necessito da covaslescência
embargada de ti.

sábado, 11 de outubro de 2014

O amor nasceu em mim como uma fase eterna.

Quando te conheci, foi tão bonito aquele sossego dentro de mim.
Estávamos falando tanto naquele lugar. Olhava pras paredes de cores tão irrelevantes, um mundo rodava e só me restava você com seu olhar tão simples.
O dia acabou e eu fui embora com tanto silêncio. Não pensava em te querer, pensava na sensação incrível de te perceber.
Afinal as contas jogadas ficaram no ar e eu e você continuamos um ao lado do outro. Como posso falar de como me passavas a vida. O homem mais suave de toda minha vida.
Estás sempre perto de mim e eu a procurar tuas mãos que tanto me ajudam nessa vida tão intranquila.
O amor nasceu bem em mim como uma fase eterna. És a pessoa que penso sempre e que poderia ser o meu amor. Estamos na roda bem perto um do outro em momentos interpostos sobre qualquer outra forma de desorganização.
Os afetos nascendo e eu te olhando e descobrindo aos poucos as sutilezas do teu afago tão teu. Quando me apercebo o teu imenso afeto mina por todos os meus poros, e, continuas revelando-te
o mais nobre criador de um sentimento que nasceu comigo há tanto e eu que nem pedi por tua sensível presença nesta vida tão descompensada que é só minha. Mas não te busco porque estou sempre contigo.


A vida vai em braile

E a vida vai em braile...

|Ele se chama apego
E corre o meu sossego
Se ilude com a menina
e deixa o nosso amor de lado

Eu já não sei
porque não sai de mim esse menino
Parece casamento
desde que conheço
tá comigo essa criatura.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

O mago chamado Clarice.

Chamou-me atenção todos os teus problemas, achei bonita a tua vontade de viver apesar de.
Salve Clarice* que escreveu sobre as possibilidades que vão além, pessoas que seguem a vida apesar de.
Foi assim que nos juntamos e começamos a ser suave. Parei de viver de blasfêmia pelos cantos.
Percebi que ainda podia aproveitar tanto e procurei essa criatura para dividir comigo.
Vivo com todos os problemas e apesar de, saio por aí movimentando e tirando os pesos das costas e todo ranço da vida que não se faz medíocre. 

domingo, 5 de outubro de 2014

Existir em sutileza



Estive urgente
por quase duas décadas
pisando em pedras calcárias
E quando mergulhei
estancou o sangue
depois de tempos
aprendi a imersão

Nasci com uma ausência

Tu estás sempre
em lugares
em sensações
que me fazem

Aqui estão todos os lugares
que me lembra
os momentos benvindos

Aqui estão todos os lugares
em que te vejo
E não estás fisicamente
Um desencarne
entre
Ensinaste-me a
te escutar
pois cantaste-me
Em todo em que estava
A te buscar.

sábado, 4 de outubro de 2014

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Solidão, silêncio

Tem gente que vê
na ousadia
um sinal de alerta

Corre em mim sentimentos
loucos
que tem medo de homens vazios

Porque a razão segue uma linha
estreita
de homens caretas
tem que ver...

No último ano
Estava tão livre
naquele Ulisses
Estava cansada de viver de ironia

A vida pra mim
é não me deixa levar
por homens vadios
de almas de merda

E não me importa mais
a lembrança
nem a solidão
por viver em desvarios

O silêncio é meu amigo
me deixa longe
da cegueira do povo
mesquinho






segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O exílio

O exílio não é um lugar físico, é um estado de consciência. É perder as referências de momentos bons e conduzir o humor a um certo costume.
Às vezes estar-se junto de alguém vai muito além do corpo. O transcendente.
É quando não existe o exílio.
Em equilíbrio nasce o amor.

Martena




Namorar um cego é demais.
E tão sensível.

Cheguei em oferendas
Eram tantos açoites
E eu nem aí para açoitar

Adorava quando a noite chegava
Os seus olhos pareciam a Lua

Eu queria um par de chinelos
Uma alma quente
E ele queria casar.

É...
Me traz um frescor de bondade acerca do mundo
Assim de ego e ego que me ensinasse a não me decepcionar
com ninguém, com ninguém.
Através disso me ensinasse a capacidade
de ter tudo
O que o olfato há de precisar

E no ventre,
sentimento de esconder.




quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A vida não tem espelhos

Em todas as vezes que pude nadar foi incrível.
Senti a fluidez dos meus sentidos e dessa forma recortei a tecitura
Era como os prazeres me descompensassem por muito tempo e a sensação tão pequena do orgasmo ultrapassasse o sentido puramente sexual.

É como estivesse num estado tão líquido misturados com sensações mentais extremamente fortes e de lúcido sentido.
Era como se naquela piscina eu me misturasse ao plasma que poucas vezes percebia envolto nas outras pessoas.

A possibilidade de não mais ter segredos e nada do que me permitia sentir estivesse errado.

É como se estivesse numa atmosfera em que a significação corporal fosse quase líquida e ao mesmo tempo misturada às outras pessoas. Enquanto o corpo estava desperto, a alma era aquecida a uma temperatura indomável.

Nessa teoria não havia espelhos.

Percebi que tinha perdido a audição. E um silêncio tinha começado a fazer parte da nova composição de minha atmosfera psíquica.
Agora caminhava de forma suave apesar de ainda não ter desapegado as marcas. Olhei então para o chão de minha casa e estava coberto de signos linguísticos, de folhas de jornais em recorte. De molduras prontas para fotografias importantes, coisas para reconhecer e elevar o ego.
Olhei para porta e ela estava aberta, retornei o olhar para o meio seio e descobri que quem eu imaginava que a já não era mais. Estava em outra reencarnação que não sabia em qual ano nem lugar. Mas ainda estava visitando aquelas lembranças. Olhei pra minhas sandálias e de repente olhei pra meu corpo novamente e estava entre pedaços do que eu era e do que sou.
A imagem que tinha das impressões de todos os movimentos que faziam estavam em repetição o tempo todo. Alternava aquelas sensações há muito tempo. E aos poucos comecei a refazer as sensações e voltar a ter uma só realidade. Nesse entretempo eu reconheci pessoas que não fazia ideia de onde vinham. Mas comecei a me incomodar com todas as lembranças fortes que não permitiam que pessoas novas encontrassem espaço em minha vida. Aprendi aos poucos a suportar uma ausência que levava a estagnar a minha sensibilidade.
Descobri que não preciso de reconhecimento e nem de quer nada além do que já existe dentro de mim,

*A primeira parte do texto foi quando perdi minha consciência e fiquei em coma.

O sonho

"Vai ter uma festa
                                     que eu vou dançar
                                     até o sapato pedir pra parar.

                                     aí eu paro
                                     tiro o sapato
                                     e danço o resto da vida."


Flor de Açucena

Não mais e véspera
Não tão hermética
Um ser extremamente claro me presenteou com sua companhia
Desde que chegou branqueou meus dias
Mas que olhos verdes, infantis, luminosos
A melhor pessoa que me aconteceu nos últimos tempos
Que se deita e acorda comigo
A quem acaricio e faço dengos infinitamente
É lindo cuidar de um ser

Meu doce apego

terça-feira, 23 de setembro de 2014

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

As palavras








O corredor era tão iluminado e ela sentava sempre na sala depois do jornal.
Colocava o corpo silenciosamente dentro do pano da espreguiçadeira e tomava um café. Seu corpo era longo quase tapava toda estampa da cadeira. Hoje comprara a canja, Aninha estava doente. Lis não sabia cozinhar e nem arrumar casa. Todo seu trabalho era confeccionar os livros que vendia. De noite empurrava a bicicleta carrinho e rodava as praças da cidade. Lis e Pérola tinham um selo cartonero que se conheceram em mais uma das oficinas literárias que faziam. Ser escritora era algo que unia as duas, algo grandioso que estava por trás das palavras.

A palavra era a coisa que mais trazia vida a Lis, era tudo que tinha de mais honesto. Pegou suas cigarrilhas e tratou de gastar o batom em seus filtros e a sentir um prazer que era sempre rotina. Como era ter rotina. Não fumava muito, apenas o pouco para que tivesse coragem de se levantar e colocar uma boa roupa e calçar um dos seus pares de tênis. Dessa vez tinha caprichado no papelão e usava tintas para fazer as capas do seu conto que tinha virado um livreto. Chamava A Mulher das Pérolas, afinal a verdadeira mulher das pérolas foi muito especial em sua vida. Tinha saudades de pessoas que trazem uma realidade tão incrível, mas aos poucos decidiu curtir a saudade de outra forma. Pois o caminho segue e é preciso deixar as pessoas em suas realidades. Realidade é algo que se contrapõe na vida e até quando temos a nossa e não precisamos de comparações e insegurança. Enquanto trabalhava Lis vivia uma realidade concreta e todas as outras que surgiam em sua mente eram muito mais imaginativas do que as outras.



sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Ninguém pela metade.

    Para ser grande, sê inteiro: nada
    Teu exagera ou exclui.
    Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
    No mínimo que fazes.
    Assim em cada lago a lua toda
    Brilha, porque alta vive.

    Ricardo Reis, 14-2-1933

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Capitu

O mar de ressaca em teus olhos
Que não mais vejo
Um mar de ausência
Um mar.
Que revolve a areia
Ondas por cima de ondas
Teu mar verde
E minha inconsequência
de olhar a ti em amoroso
desatino
A pessoa que reencontro
nesse mundo
Como amor maior
Puro e livre



domingo, 14 de setembro de 2014

Anunciação

Quando o amor nasce
mina todos os meus caminhos
Lento e profundamente
desorganizando todas as minhas defesas
É quando me entrego ao carinho
ao olhares silenciosos
a certeza exata dos meus gestos
sem nenhuma necessidade
de jogar ou omitir
os meus desejos.

Amar
não sei o exato momento
em que meu corpo desperta
para a carne e a alma
ao mesmo tempo.

Acredito que o amor está
mais uma vez chegando
meu corpo anda dizendo.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

De uma paixão chamada G.H.

Com G.H. aprendi a necessidade de uma terceira perna
pois à vida de nada agrada o descontrole.
Com Clarice compreendi que o impossível é não viver por dentro
sem a intenção de sanar os medos, os nervos e o desapegos.
Eles vão e vem em equlíbrio ou não.


Continuo sentindo falta
de uma sensibilidade esquecida
de uma bondade sobrenatural.
Os meus lugares favoritos estão suspensos
projetados em meus pensamentos
Ávidos por possibilidades de existir.

Acredito que a comunicação ainda é muito falha
Talvez organizar as ideias num livro ainda me é mais tranquilo.
Ainda não me dou com a tendenciosa comunicação humana.






quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O mar da senzala

A saudade não é sã
A saudade não existe
A saudade que nasce e morre dentro de mim
Saudade não se mata
Pois assim não se é mais.

O banzo que sangra em meu corpo,
que projeta as imagens inesquecidas,
sensações embaralhadas e ternas
Os olhos se fecham e a cores
adentram em meus escuros silêncios.
As cores que vejo não tem por aqui.
As cores estão todas dentro de mim.
E saio todos os dias à procura de uma pessoa
que me encontre em silêncios e cores
que me deixe
desconectar um pouco
do ostracismo do mundo.


 Lembrança da senzala

O mar,
Quando não estás,
Quando nunca mais,
Apenas pensar.
Caminho do mar
E tudo sempre
Estará dentro mim.
E se não estás,

Vou até o mar.

domingo, 7 de setembro de 2014

Desapontando o tempo

Acredito que amo bem mais o que não está pronto.
O que requer muita atenção e cuidado.
Amo a forma como me olhas.

Acredito na redenção humana, e quando o caos existe há uma possibilidade infinita de amadurecimento.

Acredito no amor
num construir incansável

que faz com que dois seres busquem harmonia

A vida construída a partir da imensidão de dois corações
que seguem mutuamente em silêncio
conectados pelo amor verdadeiro

Se eu pudesse
colocar em palavras
a sensação interminável do amor...
vivo em amor constante
vivo retirante
sempre apontando
para dentro
desviando dos cárceres
da pontualidade do tempo.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Malamor

Permaneço ao relento
Quando as folhas caem
E o vento triste do acontecimento,
Reside em minha manhã.

A chuva caindo lá fora
Entretanto a plenitude de minha doce aurora
Amplia meus sonhos de esperança

Em ti e por ti me deixo
Com todo sentimentalismo
Que podemos nos dar

Encontro sempre dentro de mim
A saudade e o silêncio

Sou feita de imensidão

Mas a razão hoje 
Me comove tanto
E tanto



quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Um João sem braço

A porta da casa está vazia
Eu moro em um quarto que não tem casa
Lá fora a cidade que quando abro a porta
piso direto no asfalto
Os meus sapatos estão em outros pés
Que vejo passar na rua
E saio correndo atrás deles
Quase sempre
como se isso fosse importante
e é.
É asfixia estar nos pés
marchando tão profundo
os sapatos
os meus mundos
em direções
em muitas direções.


sábado, 23 de agosto de 2014

Nas noites




Às vezes sinto falta de olhar alguém dormir.

Pois adormecer é silenciosamente o amadurecimento do sentir.
Progressão muito profundo do amor.

Porque quando me deito, o aconchego rompe dentro de mim.
E a vida retrocede lá pro berço.

Como gosto do cheiro da doce segurança,
que vem dos lençóis alvos esquentando
e entorpecendo o cansaço e
toda luta de ser entendido.

Passa o dia e correm as palavras
infantes e tantas vezes inatas
cheias de desejos em subterfúgios.

Pois dorme em mim
a necessidade eterna de acolher,
de amar o que não tem mais fim.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Rouba todos os meus nervos
talvez dessa forma tenha juízo.
Ou não,
quem disse que o que importa é juízo?
Ou só desejo?
Ultimamente tem pessoas querendo saber de mim
pessoas demais,
de curta memória
e falsos cuidados.





quarta-feira, 20 de agosto de 2014


Quando nasci,

tive que me preparar pra viver e entender a vida
porque até certa idade pensava que viver não era nada do que penso hoje.
Era tão pouco o que aproveitava. Daí tive que colocar todos os sentimentos em ordem mesmo sabendo que isso iria levar toda a minha vida.

Quando encontrei mais ordem, comecei a não necessitar de certas sensações e comecei a me achar só.
Aos poucos vou construindo novos mundos dentro mundo.
Testando minha mente e não me assustando com padrões. A inteligência é exercício diários.
Só assim as impressões vão mudando. As pessoas estão nesse caminho com a diferença do estágio de cada um.



quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O óbvio

O amor,

dentro de sua nobreza,

será insinuado bem dentro

das bibliotecas

e dos bares.

Na inconstante certeza

Na cegueira sedução.
Então forjas o meu corpo.

Vadia vaidade

que não mais me implora a tua satisfação.

A loucura é a menos repressora
de uma tecitura.
A loucura não é mais nenhum rompimento.
Tão somente livre, tão somente livre.

sábado, 9 de agosto de 2014

Há dez anos

Agora, todo dia,
eu falo baixinho diante do espelho
A vida voltou
Luz

Agora me sinto bem dentro da vida
Esperando para não estar pronta
porque nada melhor que o espontâneo

Há dez anos não sinto assim
E tenho pouca idade ainda
Estou leve e...
Louca como de costume
Cheia de impulsos
De pensamentos absurdos
bem eloquentes

E agora que estou dentro da vida
quero fazer coisas bem corriqueiras
como ter alguém para jantar
todos os dias
de mãos dadas
todos os dias
beijo e afagos na sala de estar
dois travesseiros
bem dentro da vida.

Quero aprender a ser
E quando puder
Amar loucamente
as pessoas
ser amiga
ser mulher
e não ser nada
Jogar fora todo o peso e a amargura

Há de anos não me sinto tão bem.



sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A cor e o sombreado

De noite
bem perto do sono
sinto um amor extraordinário
por todos os canto que passo

As pessoas que mais amo
que surpreendem com um significado diferente
da vida
que dá um valor profundo a tudo
que sente tristeza, mágoa
e acaba esquecendo distraidamente
pois amar é esquecer e lembrar
Afinal a vida está na imagem e na sombra
Na cor e no opaco
é estar sempre em segredo
do que se faz luz e sombreado
Que se alternam e se alternam dentro de mim
Cores neutras, claras e furtivas

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Enquanto conflito

Com 30 anos já se pode ver o mundo.

Mais uma vez procurava, quando ia parar com essa falta? Sim, estava no mundo dentro e fora dele. As pessoas são bonitas, todas elas. Mas preciso mais que isso, preciso de alguém com quem eu possa me entender. Afinal não vim com o propósito de ganhar e juntar dinheiro. Tenho certeza que não terei mais que o necessário.

Desde que descobri que conhecimento pode libertar. Queria acreditar que as cabeças pensantes fossem humildes, porque quanto mais se sabe mais se é simples e se faz uso da delicada sutileza.

Desprender é provavelmente a sensação mais humana e libertadora. É quando o valor das coisas materiais não tem peso. Saber que pode-se ser além da necessidades consumistas.

Hoje eu não consigo falar nem a metade do que tenho aprendido com vivências e análises desse tempo. Quero guardar bem essas palavras na espera de alguém para compartilhar. Ainda não achei, e penso que realmente posso dividir com as pessoas. Infelizmente erramos tanto e a vida se torna pequena, de sentimentos mal explorados.

Geralmente o que as pessoas falam e fazem me dá medo. A vida não é uma luta, afinal somos indivíduos lutando pelo coletivo. O ser pode tudo. Nesse tudo ele escolhe na maioria das vezes se prender em pequenas dificuldades.

Estou sempre buscando encontrar nas pessoas a grandeza que existe desde que vivo. A nobreza de alma, o amor livre de cobranças e a liberdade.

Continuo na lida, no tempo presente e sempre descongestionando o passado. Presentemente ativa e capaz de estudar e com sede disso. Quero entender todas as minhas tendências negativas e analisar tudo todos os dias. Saber que sou responsável também pelo outro.

Acredito no amor e na indulgência.


A cápsula do tempo
Estou com os hieroglifos
E com a certeza
Como a dedicação operária
aos meliantes conflitos

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Um lugar de costume

Essa coisa de sonhos.

Costumo sonhar muitas vezes em mesmos lugares. No sonho eu identifico  decido e me certifico que já conheço.
Às vezes sonho igual e parece um dejà vu.
Tem vezes que procuro o lugar.

Existe uma praia que sempre vou e que nesta mesma praia eu decido me afastar para um lugar que me faz sentir um bem muito grande. Vou caminhando até chegar ao mais confortável da alma.

Já ouvi pessoas falando comigo, que vinham todas as noites. Pessoas totalmente não lembradas e que nunca vi nessa vida.

Às vezes posso escolher dentro do sono o sonho que quero. É bom decidir o lugar. Mas não é só no sonho que tenho a sensação de dejàvu. Percebo que fazemos muitas coisas que vão se repetindo. Quanto mais envelheço, mais repito situações e também identifico-as.

A vida tem muito de repetição e isso é bem normal. Ando me acostumando...

domingo, 3 de agosto de 2014

Um pouco de Fernando Pessoa

APOSTILA (11-4-1928)

Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Mílton...
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!

Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos -
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos -
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.

Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um acto indefinido nem factício...

Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir...

Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!

(Passageira que viajaras tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto a vida?)

Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.
Álvaro de Campos

Será falsa a minha fama?

Será falsa a minha fama?


Existe um único corpo
Desnudo
Exposto
Miséria e corte
O cru
Às margens
Águas sujas que banham as margens do homem
A lama que veste
Ao passo que enoja e enobrece
Um verdadeiro Cão sem plumas
O homem em estado bruto, um rio a velar
Vestígios de um lodo opaco

Sutilezas de uma falsa imundície

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Mexer no funcionamento natural das coisas,
é mesmo ilusionismo.

Deixe o mundo avisado
faça tudo cedo
e fique horas deitada no tempo
com tempo de sobra
esqueça o passado
de-sa-pe-gue gradualmente

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Capítulo IV

Capítulo IV

“Flores nos campos de aço...”

Mas não como antes.

Meu tempo foi comprimido a um instante incapaz do infinito.

Despenquei do oitavo andar e nada me foi dito.

Eu piso nos campos de aço.

Flores e espinhos; pétalas no rastro do caminho deixaste para mim.



(Del fuego)

terça-feira, 29 de julho de 2014

Nem tudo é amenidades, nem irmandade.





Ela tem a péssima noção de que a vida é plástica. Nada é meramente fiel aos parâmetros, pois sorri dos outros com tal facilidade que mexe todas as rugas assim do nariz até a boca. Boca de lábios finos numa bossalidade sem disfarce. Existe sim um outro lado dela, mas nem todos tem acesso. Esse outro lado é maternal, todavia ela ainda não sabe que é o lado mais bonito. Sem cortinas, sem fachada, uma singela criatura. Uma bela mulher de corpo escultural, como dizem: tudo em cima. Mas sempre se trai quando subtrai da sociedade o superficial. É tudo socialmente perfeito que às vezes é insensível e imoral. O mundo é mesmo dela. 

Nadar

Entrando na piscina
Os ouvidos mergulhados em silêncio
As braçadas e os pensamentos
A meditação e o mergulho

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A terceira camada

A primeira felicidade
Ratifica o superficial
A segunda
Conduz o ego vangloreando-o
A terceira
Te leva profundo no que a ti não costuma enteder nem por felicidade
Quando tens nessa vida, mexe tanto em tua alma que parece um machucado
O que um dia chamarás de vida
Porque felicidade não é doce, nada mais um lado hostil que te sustenta
Não é a doença do sexo, não existe dessas abstinências
Não traduz composição mental, nem vicia de perto, nem de dor e nem de prazer
A felicidade esta, eu nem sei dizer, mesmo compondo todos os vértices e retirando todas as bengalas dessas que parecem boas oportunidades de viver.
É... parece que nem sei o que é viver, pois ainda sofro de ausências e carências
Sempre oposta a comparações benéficas e tendo nervos nem dá pra entender

Mas eu luto por uma vida que ainda não nasci pra ter.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

As cores contínuas

As flores nascem
A permanência da vida
Tudo continua sem cortes
Mas ao mesmo tempo é tudo novo
Cores contínuas
Que vem com a mesma certeza
de uma renovação.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O choro do dia

Desvendar minha vida pela metade
Faz me chorar antes de dormir todo dia
Sinto uma pureza nas vísceras
Vontade de me afastar tantas vezes
de certas delícias
Eu tenho um nada em meu peito
A falta de já não sei o quê
E nem de amor me recordo
pois cada vez mais estou longe de tua referência
encardida e desonesta
Ao te valorizar quando te vejo
Omito o meu desejo de encontrar realmente
alguém que me traga paz
Que me evidencie toda minha beleza
excêntrica e modesta
Eu sempre choro durante o sono
Para eu fazer a minha alma voar por aí


domingo, 6 de julho de 2014

Um cristal no peito

Fui te colando entre as feridas
Te enchendo de sangue
Recobrando os soluços
Recortei todos os silêncios
dos últimos anos que me deste

Fui deslocando os meus sonhos
Desdenhando outros amores
descompensando meus segredos

Como esquecer a dor pungente que me faz doer?
Qual a reza que faço para te deixar de lado?

De você não quero mais os silêncios...
Nem morrer, nem morrer.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Amor anunciado
quente.
Desponta a tua poesia
As tuas costas nuas e o teu corpo

"Cadeira Vazia"

O primeiro cd de Elis...
Música incrível do Lupicínio Rodrigues.
Uma sedução daquelas bem profundas. Falem entrelinhas!

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Status para quê?

Às vezes me sinto numa cadeira de escritório.
E a cada volta que me dou nessa cadeira o cenário muda.
Como se visse o mesmo assunto formatado de diversas formas.
Em vários conjuntos de slides diferentes.
Eu me assusto e me assusto.
Mentiras sobrepostas de forma a parecerem verdades.
O que é verdade?
O que é verdade?
Sei que nunca vou saber.
Várias versões de uma mesma loucura.
Não tem ninguém pra responder.
Nunca.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Um pássaro sem fio

  Quase não se sabe da rotina incompleta Ainda só se imagina O estudo e a satisfação de cada término de cada dia Livros a inquietação  momen...