O corredor era tão iluminado e ela sentava sempre na sala
depois do jornal.
Colocava o corpo silenciosamente dentro do pano da
espreguiçadeira e tomava um café. Seu corpo era longo quase tapava toda estampa
da cadeira. Hoje comprara a canja, Aninha estava doente. Lis não sabia cozinhar
e nem arrumar casa. Todo seu trabalho era confeccionar os livros que vendia. De
noite empurrava a bicicleta carrinho e rodava as praças da cidade. Lis e Pérola
tinham um selo cartonero que se conheceram em mais uma das oficinas literárias
que faziam. Ser escritora era algo que unia as duas, algo grandioso que estava
por trás das palavras.
A palavra era a coisa que mais trazia vida a Lis, era
tudo que tinha de mais honesto. Pegou suas cigarrilhas e tratou de gastar o
batom em seus filtros e a sentir um prazer que era sempre rotina. Como era ter
rotina. Não fumava muito, apenas o pouco para que tivesse coragem de se
levantar e colocar uma boa roupa e calçar um dos seus pares de tênis. Dessa vez
tinha caprichado no papelão e usava tintas para fazer as capas do seu conto que
tinha virado um livreto. Chamava A Mulher das Pérolas, afinal a verdadeira
mulher das pérolas foi muito especial em sua vida. Tinha saudades de pessoas
que trazem uma realidade tão incrível, mas aos poucos decidiu curtir a saudade
de outra forma. Pois o caminho segue e é preciso deixar as pessoas em suas
realidades. Realidade é algo que se contrapõe na vida e até quando temos a
nossa e não precisamos de comparações e insegurança. Enquanto trabalhava Lis
vivia uma realidade concreta e todas as outras que surgiam em sua mente eram
muito mais imaginativas do que as outras.
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