quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Um João sem braço

A porta da casa está vazia
Eu moro em um quarto que não tem casa
Lá fora a cidade que quando abro a porta
piso direto no asfalto
Os meus sapatos estão em outros pés
Que vejo passar na rua
E saio correndo atrás deles
Quase sempre
como se isso fosse importante
e é.
É asfixia estar nos pés
marchando tão profundo
os sapatos
os meus mundos
em direções
em muitas direções.


sábado, 23 de agosto de 2014

Nas noites




Às vezes sinto falta de olhar alguém dormir.

Pois adormecer é silenciosamente o amadurecimento do sentir.
Progressão muito profundo do amor.

Porque quando me deito, o aconchego rompe dentro de mim.
E a vida retrocede lá pro berço.

Como gosto do cheiro da doce segurança,
que vem dos lençóis alvos esquentando
e entorpecendo o cansaço e
toda luta de ser entendido.

Passa o dia e correm as palavras
infantes e tantas vezes inatas
cheias de desejos em subterfúgios.

Pois dorme em mim
a necessidade eterna de acolher,
de amar o que não tem mais fim.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Rouba todos os meus nervos
talvez dessa forma tenha juízo.
Ou não,
quem disse que o que importa é juízo?
Ou só desejo?
Ultimamente tem pessoas querendo saber de mim
pessoas demais,
de curta memória
e falsos cuidados.





quarta-feira, 20 de agosto de 2014


Quando nasci,

tive que me preparar pra viver e entender a vida
porque até certa idade pensava que viver não era nada do que penso hoje.
Era tão pouco o que aproveitava. Daí tive que colocar todos os sentimentos em ordem mesmo sabendo que isso iria levar toda a minha vida.

Quando encontrei mais ordem, comecei a não necessitar de certas sensações e comecei a me achar só.
Aos poucos vou construindo novos mundos dentro mundo.
Testando minha mente e não me assustando com padrões. A inteligência é exercício diários.
Só assim as impressões vão mudando. As pessoas estão nesse caminho com a diferença do estágio de cada um.



quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O óbvio

O amor,

dentro de sua nobreza,

será insinuado bem dentro

das bibliotecas

e dos bares.

Na inconstante certeza

Na cegueira sedução.
Então forjas o meu corpo.

Vadia vaidade

que não mais me implora a tua satisfação.

A loucura é a menos repressora
de uma tecitura.
A loucura não é mais nenhum rompimento.
Tão somente livre, tão somente livre.

sábado, 9 de agosto de 2014

Há dez anos

Agora, todo dia,
eu falo baixinho diante do espelho
A vida voltou
Luz

Agora me sinto bem dentro da vida
Esperando para não estar pronta
porque nada melhor que o espontâneo

Há dez anos não sinto assim
E tenho pouca idade ainda
Estou leve e...
Louca como de costume
Cheia de impulsos
De pensamentos absurdos
bem eloquentes

E agora que estou dentro da vida
quero fazer coisas bem corriqueiras
como ter alguém para jantar
todos os dias
de mãos dadas
todos os dias
beijo e afagos na sala de estar
dois travesseiros
bem dentro da vida.

Quero aprender a ser
E quando puder
Amar loucamente
as pessoas
ser amiga
ser mulher
e não ser nada
Jogar fora todo o peso e a amargura

Há de anos não me sinto tão bem.



sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A cor e o sombreado

De noite
bem perto do sono
sinto um amor extraordinário
por todos os canto que passo

As pessoas que mais amo
que surpreendem com um significado diferente
da vida
que dá um valor profundo a tudo
que sente tristeza, mágoa
e acaba esquecendo distraidamente
pois amar é esquecer e lembrar
Afinal a vida está na imagem e na sombra
Na cor e no opaco
é estar sempre em segredo
do que se faz luz e sombreado
Que se alternam e se alternam dentro de mim
Cores neutras, claras e furtivas

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Enquanto conflito

Com 30 anos já se pode ver o mundo.

Mais uma vez procurava, quando ia parar com essa falta? Sim, estava no mundo dentro e fora dele. As pessoas são bonitas, todas elas. Mas preciso mais que isso, preciso de alguém com quem eu possa me entender. Afinal não vim com o propósito de ganhar e juntar dinheiro. Tenho certeza que não terei mais que o necessário.

Desde que descobri que conhecimento pode libertar. Queria acreditar que as cabeças pensantes fossem humildes, porque quanto mais se sabe mais se é simples e se faz uso da delicada sutileza.

Desprender é provavelmente a sensação mais humana e libertadora. É quando o valor das coisas materiais não tem peso. Saber que pode-se ser além da necessidades consumistas.

Hoje eu não consigo falar nem a metade do que tenho aprendido com vivências e análises desse tempo. Quero guardar bem essas palavras na espera de alguém para compartilhar. Ainda não achei, e penso que realmente posso dividir com as pessoas. Infelizmente erramos tanto e a vida se torna pequena, de sentimentos mal explorados.

Geralmente o que as pessoas falam e fazem me dá medo. A vida não é uma luta, afinal somos indivíduos lutando pelo coletivo. O ser pode tudo. Nesse tudo ele escolhe na maioria das vezes se prender em pequenas dificuldades.

Estou sempre buscando encontrar nas pessoas a grandeza que existe desde que vivo. A nobreza de alma, o amor livre de cobranças e a liberdade.

Continuo na lida, no tempo presente e sempre descongestionando o passado. Presentemente ativa e capaz de estudar e com sede disso. Quero entender todas as minhas tendências negativas e analisar tudo todos os dias. Saber que sou responsável também pelo outro.

Acredito no amor e na indulgência.


A cápsula do tempo
Estou com os hieroglifos
E com a certeza
Como a dedicação operária
aos meliantes conflitos

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Um lugar de costume

Essa coisa de sonhos.

Costumo sonhar muitas vezes em mesmos lugares. No sonho eu identifico  decido e me certifico que já conheço.
Às vezes sonho igual e parece um dejà vu.
Tem vezes que procuro o lugar.

Existe uma praia que sempre vou e que nesta mesma praia eu decido me afastar para um lugar que me faz sentir um bem muito grande. Vou caminhando até chegar ao mais confortável da alma.

Já ouvi pessoas falando comigo, que vinham todas as noites. Pessoas totalmente não lembradas e que nunca vi nessa vida.

Às vezes posso escolher dentro do sono o sonho que quero. É bom decidir o lugar. Mas não é só no sonho que tenho a sensação de dejàvu. Percebo que fazemos muitas coisas que vão se repetindo. Quanto mais envelheço, mais repito situações e também identifico-as.

A vida tem muito de repetição e isso é bem normal. Ando me acostumando...

domingo, 3 de agosto de 2014

Um pouco de Fernando Pessoa

APOSTILA (11-4-1928)

Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Mílton...
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!

Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos -
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos -
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.

Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um acto indefinido nem factício...

Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir...

Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!

(Passageira que viajaras tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto a vida?)

Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.
Álvaro de Campos

Será falsa a minha fama?

Será falsa a minha fama?


Existe um único corpo
Desnudo
Exposto
Miséria e corte
O cru
Às margens
Águas sujas que banham as margens do homem
A lama que veste
Ao passo que enoja e enobrece
Um verdadeiro Cão sem plumas
O homem em estado bruto, um rio a velar
Vestígios de um lodo opaco

Sutilezas de uma falsa imundície

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Mexer no funcionamento natural das coisas,
é mesmo ilusionismo.

Deixe o mundo avisado
faça tudo cedo
e fique horas deitada no tempo
com tempo de sobra
esqueça o passado
de-sa-pe-gue gradualmente

Um pássaro sem fio

  Quase não se sabe da rotina incompleta Ainda só se imagina O estudo e a satisfação de cada término de cada dia Livros a inquietação  momen...