sábado, 22 de novembro de 2014

De noitinha encostava as costas na cadeira que levava pra calçada.
Mãe já não vivia mais e casa só de mim costumava. Tomava um banho e tirava a alfazema de dentro da cômoda, prendia as pontas do mosquiteiro nos lastros da cama. Pegava o cigarro que desde muito cedo enrolava. O cheiro e o gosto do fumo amolecia o espinhaço da rotina crua que misturava o profano e o espiritual.
Na redinha da sala lia tudo que os compadres da cidade traziam. Tinha muita leitura que me divertia. Ajeitava a gola da camisa, recuava os olhos estremecendo os músculos e a espinha. Sentava-me na beira da cadeira, pousava o cigarro na boca seca. Levantava-me como quem se prepara para não morrer. O passado começava a reconstruir-se dentro de uma espera. Tocava com o polegar e indicador o pingente em seu bósforo. Fechava os olhos e esperava um pouco todas as falácias se aquietarem e por momentos sentir o forte apego por sua voz. Ela estava ali misturada dentre a ressonância das outras vozes. Muitas vozes. A reverberação e a distinção de tudo que faz sentido.

Ficar só é cintilar e perceber o ciclo.



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