Às vezes quando passo pelas ruas do centro da cidade observo pessoas vestidas pela loucura, tão abandonadas por si e por todo olhar de quem passa apressado. Olhares dormentes pelo uso de drogas, realidade crua que minha mente carrega durante algum tempo, algo intragável para minha sensibilidade. Às duas horas da tarde eu tento chegar até o cinema São Luiz, o calor de setembro cria uma atmosfera morna, melancólica, quase aflita. Uma angústia pela pobreza humana, por um cheiro entranhado da quantidade de lixo e dos esgotos espalhados em qualquer esquina da rua Sete de Setembro com a Conde da Boa Vista, a prostituição que não se limita às menininhas de saia curta inerentes ao culto ao superficial , uma mescla de idiossincrasias para mim que não gosta de bregas e gente que não entende que música estridente nunca esteve na moda. É como suportar um pequeno caos até chegar na bilheteria do cinema, uma tristeza de minutos mas muito cruel. Constatar todo alvoroço e ter recompensas quando ali do lado tem um carinha bem gente boa que vende água e sonho de valsa, alguém que me acena por já me conhecer e enquanto coloco minha bici num espaço dentro do São Luiz, o que me faz trocar algumas palavras com o segurança e tudo vai se perdendo até que o filme começa e esqueço da impressão das ruas do centro da cidade.
Dezembro-40 mil vidas-envelheço. No espelho nunca esqueço meus 20 anos. Tudo é memória, o presente, sábio.
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