O tempo sábio perdoa tudo aqui.
amor leve
Sertão no peito
coração enxuto
Promessa de ser boa
a vida
Dezembro-40 mil vidas-envelheço. No espelho nunca esqueço meus 20 anos. Tudo é memória, o presente, sábio.
O tempo sábio perdoa tudo aqui.
amor leve
Sertão no peito
coração enxuto
Promessa de ser boa
a vida
O sangue talvez
Mas o coração não.
Balas perdidas
Bala que não fere
nem pesa mais.
Espero o Natal
Tento ser simples
Amar desafio.
Escrevi A vez de Cecília e foi a primeira vez que conseguir fazer uma narrativa com começo, meio e fim. Espero aprender mais e em algum momento escrever outro livro para que possa amadurecer na escrita. Gostar de escrever e ter um mundo com muitas perspectivas. Ser concreta e lúdica e construir um mundo dentro da literatura. Cecília, empoderada, reconstrói sua vida.
[ 9.8.22 ]
Cartas literárias
Dividida entre vida útil e encontrar pessoas para um cine, um sábado, se possível sem conversas virtuais. Preocupo-me com tua insônia, teu trabalho. Você precisa sair mais para ter sono à noite.
Meu dente quebrou de novo, fui no Cine Brasília, filme em espanhol. Ontem lembrei de Clarice Lispector, de como gostava de sair de táxi para dar voltas pela cidade do Rio de Janeiro. Lembrei do Jardim Botânico e de caminhar no calçadão de Copacabana no fim da tarde. Tanta gente no calçadão, pessoas diversas e diferentes. Adoro ver as pessoas e ver como se vestem, como interagem, pessoas com culturas, pessoas que me trazem calma. Afinal sou parte das pessoas do mundo também.
Vi que Marcelino Freire vai dar uma nova oficina literária, tens falado sobre literatura? Qual livro agora? Continuo lendo a Carola Saavedra, às vezes pelo um livro de Poesia. Você sabe que leio devagar e ler poesia acaba rápido.
J.G.. quando vagos conversar?
A imagem branca e preta em minha mente. Realizo todo dia o descanso e o silêncio na minha cabeça. Todo dia é preciso ter as cores para pensar, para que elas virem atitudes, alegrias e sentimentos. Para que antes de dormir, meditar e refinar as impressões do dia.
Às vezes, quando o dia é muito bom, vejo luzes prateadas e as cores são bonitas quando fecho os olhos, pequenas linhas de cores aparecem entre a cor negra dentro dos meus olhos. Talvez veja cores para não temer o escuro, para não ser branca as sensações da vida.
Apesar da minha leitura ser devagar e de eu ter dificuldade de terminar de ler os livros que escolho, eu adoro livros. Ultimamente comprei um livro de Chico Buarque chamado Budapeste. No livro um aviso anônimo de uma bomba a bordo e assim a necessidade de um pouso forçado de um avião entre Istambul e Frankfurt.
Budapeste para mim é um lugar desconhecido fazendo com que a leitura do livro seja interessante. Marrom quase mostarda é a cor da capa do livro, cor muito bonita. No verso da capa a sinopse do livro em húngaro e na parte da frente a sinopse em português, achei muito legal.
Que eu consiga ler até o final!
Domingo fui no clube por causa de um aniversário. Cheguei e fiquei sentada por um bom tempo escutando o samba. Estava na minha, esperando a preguiça passar para começar a dançar.
Bruna era seu nome, moça bonita. Olhei e ela sorriu. Ficamos ali dançando sambas de Chico, Luiz Melodia, Paulinho da Viola, Cartola. Dançávamos solto, surgiu ali uma grande empatia. Depois que a roda de samba acabou, voltei para casa com uma alegria muito grande.
Bruna dançava muito. Bruna tinha síndrome de Down e era muito bonita. Trocamos passinhos no samba, ela era realmente uma pessoa incrível. Foi um dia muito legal.
Viver como outros
não
Morar com alguém,
pouco provável
Quando se tem quase 40 anos
As palavras são mais
O silêncio sempre
pensamentos para ser
desapego,
o medo é diferente
quando se tem quase 40
Amar é ter e não ter
concatenar, ser espírito.
Viver e ter paz
Saudade
Meu sangue está pronto
no tempo
coração e desejo
nervos, mente
aceito o vermelho
Estou no mar
tenho o sol
caminho comigo mesma
amar, plenitude
errante
Eu sinto a vida.
O que sinto
uma criticidade diferente hoje em dia.
Lidar e lutar pela condição da mulher e do racismo. Sororidade, pensar no coletivo. Ter na leitura uma atitude a partir do momento de debate, de ter voz e desabafar. Maneira de estar perto e da união das ideias.
Leituras e encontros em Recife e Caldas Novas.
.-
Morfologia da dor-Julia Larré
Almas sonolentas- Carola Saaverda
"Vou viver como alguém que espera um novo amor"
Amor Clarice
Hilda Hilst
Amor de Vinícius
Chico
Do meu tempo
Vivo
O mar era um som maior diante minha vida interior. Medos se perderam, meu pai estava lá.
Não tenho saudades nem cansaços. voltava pela primeira vez a cidade que vivi por 36 anos. Lugar tão vivo, imagino todas as risadas, de ir até a o Parque Dona Lindu de bicicleta para ler, escrever, comer um pedaço de torta sempre no mesmo lugar.
Era sempre desafiador sair aos domingos, às vezes ocupava o tempo outras o tempo demorava a passar e voltava para casa com muita solidão. Sensação que também faz parte, hoje a solidão quase não me é percebida. Criar casca e se dar melhor com as coisas da vida.
Quando lembro daqueles domingos, eu me sinto mesmo feliz.
Camila que conheci e que fez dissolver nervosismo e mágoa. Que tem 16 anos. Menina que presta atenção nos peixes pequenos da Água Mineral, que olha com calma. Pessoa que não é de Brasília, que não mora em Brasília, que nem trabalha e mora numa cidade satélite com todos os segredos do mundo de toda sensibilidade. Ela salvou o meu sábado e me fez fazer uma boa prova no domingo depois de uma conversa de poucas palavras.
Ontem eu conheci você e quando entrei no ônibus eu senti a calma de quando eu realmente conheci alguém de verdade. Não quero sair daqui, o lugar que lembro sempre é Itamaracá e caminhar pela cidade. Sei que voltarei a Recife para ter dos amigos uma conversa amiga e tomar um café no Cinema da Fundação.
Os amigos de Brasília e já me sinto daqui. Ultimamente tenho cuidado mais das lembranças pois elas me trazem para o presente. Minha mãe e a mim.
Hoje eu entrei no ônibus e lembrei de ontem, da Carola Saavedra e de seu livro e de Macabeia e da Paixão segundo GH. Constatei a certeza de todas as repetições para acertar na vida.
Já não reconheço o aposto de uma solidão
Cada dia a menos
de um morrer que não existe
Tudo a seu tempo
Trabalho, a tua companhia
A falta de medo
de ti
de ser diferente
para gostar sempre da vida
Cecília vivera mais.
Dias sem o tempo e a complicação das ruas da cidade, do cheiro irritado e
miserável de quem busca o que nem sabe achar. As migalhas dos lugares ocos, os
porres de uma vida amarga. Era mesmo um nervo a cada cigarro e no findar do
dia, sobrava a expectativa de um amanhã diferente. O sabor da sujeira na alma
era o pior de tudo depois de passar por tanta gente que traz a mediocridade nas
veias e feridas expostas revestidas de uma forma de prazer inútil, destrutível,
incansável. Então mais um cigarro para ver que quem está do lado é mero prazer
“sobrevivente” que levanta da cama antes que a noite acabe. A mais louca ilusão
que sentia Cecília, o vazio.
Era assim que voltava para casa, exausta, sentada no banco do ônibus e fumava o
último cigarro daquela madrugada. Nesse instante parou e lentamente olhou para
si como se desconhecesse aquelas mãos, as unhas num vermelho vivo, estava
cansada de tudo. Mais uma vez não entendia por que estava voltando ou por que
procurava aquele apartamento do outro lado da cidade. Não era seu mundo. A
começar pelos sobrados de cômodos claustrofóbicos. Talvez aquela realidade fria
trouxesse algum prazer, ou quem sabe a forma com que todos ali buscavam a
felicidade. Era como se os impulsos inquietassem mesmo a vida. Não querer
entender, apenas sentir. Isso era tão importante.
Foi assim que Cecília sentiu Antônio, como um devaneio a cada semana no cúbico
espaço em que morava.
Amor bruto. Se é realmente esse o nome do devaneio mais inimaginável de
Cecília. Mulher sensível a buscar o gosto de um homem de barba mal feita.
E como num ritual uma vez por semana, chegava e sabia o quanto era bom esperar
Antônio e seus rompantes eufóricos e as mãos que tocavam suavemente. Euforia
que se traduzia numa intensidade lenta a percorrer a noite.
A verdade é que para Antônio ela era o amor que nunca teve. A mulher doce e
sensível de traços delicados. Tanto quanto ele,ela também era plena em sentir,
desde o cheiro das coisas, como a força de cada olhar e o medo de perder.
E nesse medo de perder e mais ainda no de se achar é que Cecília começara a
perceber naqueles olhos o que chamara de bruto amor. Era mesmo bruto, pois o
que não tinha amarras, apavorava.
Era a falta de limites, sentir, sensação de liberdade. A
ilusão de que podia chegar e sair sem hora e sem ninguém a lhe cobrar mero
gesto de apego.
O fato é que nunca conseguiu entender que fugir fosse pior do que esperar o dia
amanhecer e aceitar o quanto queria voltar quando a noite batesse. Bruto amor
era não se deixar.
Não sentir o gosto da água nos lábios ressecos de tanto falar em silêncio, era
negar apego tão grande por quem só lhe fazia bem.
Mas como estranhava tudo quando deixava aquele canto. Mas do que nunca criara
dentro dela aquele lugar que respirava o silêncio Antissufocante do mundo.
Forma insana de amar.
Cecília vivera mais, o que não tinha de ser.
É preciso tempo para sentir toda grandeza de uma nova cidade. Estive no Pelourinho, caminhei por ruas com calçamento de pedras. Lugares que não vou esquecer como a casa de Jorge Amado, Zélia Gattai e a Igreja de São Francisco. Salvador me traz felicidade pelo mar da Barra, pela ida ao bairro do Rio Vermelho. Ter harmonia na maneira de pensar a família de uma forma diferente. Conhecer as pessoas a partir das circunstâncias e o tempo de convivência nessa vida. Meus irmãos, meu pai, as interpretações na minha cabeça que ficam em silêncio. As fitas do Senhor do Bonfim amarradas na pequena Igreja em que os pedidos me embaralham e basta meditar um pouco e o que se pede é ter vida e um trabalho que eu possa ser incluída.
Salvador é mesmo uma cidade bonita.
É o que penso. sinto a fragilidade de viver Deus sabe como se estivesse pronta acompanhando o meu mundo mundo imantado meu silêncio pensamen...