Subi no ônibus. Sábado de tarde. Uma roupa bonita e o perfume. Sentia quase tudo, a pele fresca e o conforto de não ter pressa. Dois livros no colo, olhos que observam pela janela as pessoas em suas vidas. Naquele momento não pensava em ninguém e de certa maneira isso era fabuloso. Uma alegria de viver, somente viver, sem expectativas maiores. Confortável saber que agora estava trabalhando e aos sábados me permitia somente me curtir.
Divagava uma vida maior, essas que não se ocupam com manuais e nem pequenas coisas do dia a dia.
Desci bem perto da praia que por mais urbana que fosse me agradava o cheiro tão vital do mar.
Ao chegar de volta em meu apartamento, sentei-me em minha cadeira de balanço, acendi a luminária e como de costume eu fiz minhas leituras do dia, escrevi. A noite foi chegando, acendi o cigarro, liguei o rádio. Mais tarde te ligaria para sairmos no domingo. Pensei um pouco em ti. Era sempre muito bom estar contigo como também era bom estar comigo. Olhei ao meu redor, porta-retratos diversos e pensei o quanto fiz para as lembranças não mais doerem. Olhava sóbria a beleza de todas aquelas pessoas tão estimadas. Percebi que na vida existe tempo para tudo. Agora era o momento de estar só naquela cidade. E não sofria.
Olhos que já foram tão carregados de brisa, olhava para si e o pó se assentava no fundo do copo. De repente, percebi o quanto gostava de cada construção feita. Há quanto tinha custado aquela paz interior. Por muitas vezes tão incompreensiva. Já não se podia calcular o quanto de paciência tão determinada. Nem sabia que depois de tanto viver fosse tão bom se envaidecer pela rotina corriqueira
e por escolher a vida tranquila e humildemente confortável.
Amanhã depois de ele ver o futebol na TV, vamos descer até o mar. Os olhos verdes dele me encantavam. De noite, cinema e sobremesa. Pedi para
ele ficar.