sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Eu, meus pais e o tecido puro algodão.





Lembro de como eu gostava das roupas da minha mãe quando ainda trabalhava. Blusas de linho, viscose, cambraia, tecidos que até hoje dou um valor enorme. Tecidos que nunca eram malha, engomados tão elegantes. A beleza do puro algodão, de sempre ir nas Casas José Araújo para comprar tantos metros para levar para costureira fazer vestidos. Lembro de um vestido verde que usei no São João e de um colete creme de estrelas azuis que usava sempre com uma calça branca comprada na Bugatti do Shopping Recife. Adorava aquela roupa que só podia usar em dias especiais. Estava vestida assim quando fui ao Teatro Santa Isabel pela primeira vez assistir a peça Mamãe não pode saber, um texto de João Falcão em que Lívia Falcão atuava. Eu só consegui entender da importância daquele momento tempos depois e sempre tenho carinho por meus pais me levarem para cinema, teatro, festas e farras. Foi assim que aprendi tanta coisa da vida para saber conviver em lugares diversos. Hoje posso entender esse gosto por andar pelas ruas do centro e foi minha mãe que me ensinou o valor de transitar pela vida de forma ampla e ter consciência do que sou e do que as outras pessoas são, de não ter medo de me misturar e respeitar as diferentes realidades seja numa mesa de bar, no ambiente de trabalho e na rua. Troca que se faz com pessoas mais simples ou mais formais. E assim consigo valorizar as pessoas dignas que estão em todo canto independente de importância ou classe social. Pessoas assim são como um tecido bem bonito, algo como puro algodão que sempre me traz impressões incríveis, elegantes e profundamente de bom gosto e só posso dizer isto quando me permito toda naturalidade da vida que é dialogar com o mundo e as pessoas, herança que agradeço aos meus pais e a vida intensa de quando eram mais jovens.

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