domingo, 28 de dezembro de 2014

O amor de Melissa




Durante a infância Melissa não entendia o quanto buscava em si a certeza de toda felicidade que trazia consigo. Antes de reencarnar pediu para ser especial a sua missão na Terra.
Nasceu filha de pais importantes. Pessoas que encontraram seus caminhos em ofícios artísticos, era assim descendente de dois tipos de elite: intelectual e artística. Melissa tinha sensibilidade demasiada já aos 8 anos aprendera a tocar um instrumento, não tinha noção dos dotes que foram ressurgindo de outras vidas. Se sentia mal. O fluxo criativo era maior do que a maioria das pessoas que estavam em sua vida. Começou a se boicotar, a sofrer, a ver e sentir limites nas habilidades que já dominava. Era como repetir de ano e ter paciência para acompanhar pessoas que engatinhavam.

Seus pais mudaram de cidade, para um lugar mais possível para Melissa. Mas quando chegou no seu primeiro dia de aula todos olharam com estranheza para ela. Foi assim que percebeu que o formato do seu rosto era diferente. Melissa tinha síndrome de down. Para ela não era doença, pros outros sim.
Melissa era especial e não entendia a vida estranha que os outros levavam.

Era difícil entender o ritmo das pessoas ao passo que cada vez era menos carne e mais espírito. As pessoas faziam movimentos contrários. A festa do mundo era quase um tormento. Viver era solitário e solitário não era ruim. Era preciso se guardar na solidão para realizar os projetos que tinha por fazer aqui. Desde cedo sabia os propósitos registrados em sua alma. Era preciso entender o mundo e se encontrar nos lugares certos para conseguir desfazer as promessas e não vagar de forma perdida por uma encarnação. Para isso era preciso se afastar de preocupações vazias e se encontrar o raciocínio e das influências positivas. Abster-se do prazer puramente carnal. Entender e estar com as pessoas era importante. Fazer trocas de impressões dessa e de outras vidas. Reencontrar laços de afeto pois o amor é o centro da motivação do universo. Quando havia a rejeição por incompreensão é preciso amar mais ainda. O amor compreensivo de quem sabe que pode ser maior do que a falta de escrúpulos e a hipocrisia gratuita.

Nada mais elegante do que poder ver além sem ferir e ferir-se com a incompreensão.
Melissa foi uma mulher afortunada por valores. Era mesmo um ser especial.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Flor de pitanga







Naquele dia sentamos diante da chuva fina, o cheiro de terra dentre o teu casaquinho mostarda. Sentia o cheiroso daquele perfume, uma fragrância de qual me retorna no corpo de outras pessoas. A necessidade de ter mistérios dentro desse apego. Viver para não encontrar. Só de olhar de longe o teu passadio estendo todas vísceras do conforto que me passas.
Parece que vim pra te observar, acompanhar o fluxo da tua jornada, sabendo da nossa ligação de tempos. É como tentar entrar no mar e tentar preencher todo espaço. Perceber além do recorte e ter todo o oceano sem calcular nenhuma métrica.
sentimentos libertos,

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Velas todas acesas

E assim todas a velas se quedaram acesas.
Que a saúde esteja sempre pronta, e o amor? Ah... sempre!
Que venha 2005!

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

As cinzas

Adoro quando você vem e me acomoda no meu desespero.
Nasci com as golas alvas e engomadas.
Irreversível é não cortar os tecidos em alta costura
E ter que fumar cigarros baratos
Por tabela.

Quando já se é ambidestra
Se tem  pulso certo
Para tantas horas
O olho fixo
No vão





sábado, 20 de dezembro de 2014

Onde anda o fino da bossa?



Mundos prolixos
esquecidos

Entre peças desconexas
Pessoas em trotes descompassados

E eu passava horas
enfileirando os cigarros
olhando não mais com os olhos

A vida que nunca toca

a permanente névoa
nas lentes de contato

dispensei os óbvios
.
recusei padrões
.
derramei em mim o líquido da placenta
.
minha placenta
.
.
.

Agora 

observo sem pudor
quase tudo 
que me cansa


Pessoas 
repetidas
repetem
a vida

Pessoas com senzalas na cabeça
Acumulando 
medíocres sensações.

oculta
a alma
elegante
que observa.







segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Tempo de contar.

Acordava todo dia
com a roupa do passado

Difícil se situar em uma só vida
Regressão parece bem rotineiro

Tempo outro
E ainda precisamos
contar os anos e os sonhos.


domingo, 14 de dezembro de 2014

Regresso

Capítulo II

Seraphine se abaixa para colocar o balde na cabeça. Não demoraria muito e a senhorinha estaria pronta para o banho. O vestido alvo sobre a cama era tudo que Seraphine sempre sonhou para sua querida Gisele, mas não tinha meios para sair daquela vida de pobreza. Gisele nunca reclamava nada para mãe, pois sabia conviver bem consigo e não via na pobreza nada mais além do que a falta de roupas finas e de uma cama mais macia. O trabalho na cocheira não era amargo. Cuidar dos cavalos sempre fora um prazer muito grande e não se importava de ter patrões, afinal eles eram tão bons com ela e sua mãe. Quando o senhor vinha da cidade sempre trazia folhas de papel e lápis, pois tinha gosto em ver Gisele escrever frases muitas vezes nunca imaginadas por alguém que nunca saíra das redondezas. A maioria das frases falava de uma atmosfera parisiense, de formas rebuscadas com detalhes finos e de perfil clássico. A letra de Gisele era algo surpreendente. Era bem desenhada, por isso, espanto para todos que a conheciam. Pois Gisele nunca tinha sequer pisado numa escola e nem tido oportunidade de frequentar lugares luxuosos.
De dia, era normal vê-la nos arredores da cocheira e à noite, à luz de uma vela, sentada na mesa da cozinha da casa grande, ali passava duas, três horas escrevendo. Dizia à sua mãe que escrever era algo que poderia sempre modificar e criar, já que a vida ainda não lhe reservava tal poder.
Seraphine, apesar das poucas condições, tinha um bom gosto muito grande e tudo que a adornava dava-lhe uma sensação de requinte. Sempre cultivava o corpo e possuía uma educação impecável. O que dava muito gosto a Gisele, que apesar de não saber muito sobre sua mãe, admirava-a e encontrava em seus traços delgados uma herança europeia.
A vida na fazenda se dava tranquila. Patrões bons, que gostavam de boa música e fartura. Praticamente viviam da colheita do café. Ao redor da casa principal existia um vilarejo em que moravam os trabalhadores. Seraphine e Gisele eram as únicas que moravam ao lado da casa grande. Seraphine desde que voltou da França passou a cuidar de Elizabeth, a senhorinha da casa.
Gisele escutava de Samuel palavras duras que a excitavam. Homem grosseiro, mãos hábeis a uma forma de carinho absolutamente bruta. Entretanto precisava de uma esposa e não tinha isto de Gisele. A cada vez que se desnudavam e se jogavam entre a grama, sentiam um prazer demasiadamente sem escrúpulos. Dessa forma, Gisele sentia-se sexualmente realizada e cada vez mais livre. Não necessitava nada mais do que os encontros animalescos com aquele homem. Achava a vida muito simples, sem casa, sem filhos, sem marido. Era instintiva e sem vínculos afetivos com ninguém. Gostava de se igualar aos cavalos. Gostava de sentir os cabelos pesados sobre as costas num ímpeto selvagem. Ao mesmo tempo que dava bastante importância aos requintes de sua mãe.
Ao redor da fazenda existiam diversos tipos de árvore e uma estrada longínqua que levava até a cidade. Não existia barulho a não ser dos trabalhadores na lavoura e dos pequenos bichos. A noite era preenchida por um céu limpo cujas estrelas brincavam com a vista de quem se deitava na relva para passar o tempo. A solidão não era conhecida pelas pessoas que tinham se acostumado com a calma. Para Gisele era ainda mais interessante, pois não tinha noção do que era o ritmo fora dali. Mas era vasto o que sabia por Seraphine e Elizabeth. Sabia que uma hora a vontade de conhecer lugares iria ser forte. Mas não tinha pressa. A única coisa que pensava no momento era satisfazer seus desejos mais primários. A necessidade de roupas delicadas não passava por sua cabeça. Não tinha maiores problemas com o que possuía mesmo sendo muito pouco. A pequena felicidade que tinha vinha de um anseio que estava sempre ao seu alcance. Para Seraphine, toda aquela satisfação por aquela vida brejeira era algo bom, mas algo ia acontecer no decorrer da vida para que ela aguçasse a vontade de explorar, de se comunicar com o mundo.




sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Olhos de dentro

Espiritualmente a cor

Os corpos iluminados
tua cor, tua aura,

Entre peles
um caracol
um casulo
um pulso

o arrepio
dorme comigo

o esmalte
o dia posto

As luzes
ambíguas
um certo contorno
lilás.



terça-feira, 9 de dezembro de 2014

As mãos soltas no mar

No trem,

na boa confusão de uma vida.
amada vida.


O meu quarto está dentro da casa
habitado pelo abstrato.
Estou  bem dentro da vida.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Amor de férias,

Amor

Num minuto
O pranto desfaço
Pois o amor desnorteia meus medos
E me envolve como um ninho

De aconchego,



segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Não está num par de botas, a vida.

Em mim
A minha Tia

As flores amarelas
bem dentro da Ilha
Bom gosto de Tia

Tremores
Nervos deflagrados
A Sensibilidade
sensata
versos de Chico, Pessoa
A voz de Fagner,
de Elis
De Bethânia

O bom português
que ensina
e critica

Beleza hermética
café
e a cinza do cigarro

Introspectiva jornada
visão
milimetricamente
dopada
Impedimento aflito

Copos de mágoa
Traumas
Dissipa, decepa


O pensamento maior
mente
O pensamento expande
cura

Saudade não esquivada
Lágrimas sem rebate
limpa a dor

Em teus carnavais,
nas crises
nos sinais

A ligeira
certeza
de tua vida

Especial demais.




A morte acompanha a vida.

É o que penso. sinto a fragilidade de viver Deus sabe como se estivesse pronta acompanhando o meu mundo mundo imantado meu silêncio pensamen...