Aquela casa era minha. Por muito tempo eu pegava uma das cadeiras do terraço e ficava na calçada de maneira que eu pudesse me voltar para a fachada da casa e achava lindo aquele tom de verde que cobria naquele momento o que se deixava exposto, com uma calma conquistada aprumava o cigarro na boca e já conseguia sentir o gosto do café depois de um dia de trabalho. Entretanto o afã de me permitir e me sentir amada era para mim um princípio, um começo.
Sensação de quem ganha um presente e perde as estribeiras pelo fato de ser bom e permissivo, lidar com o que vai além do esperado para uma vida. Naquela casa sabia a medida de cada parede, mas nunca consegui mensurar a quanto estava o teto para o chão, porque neste cálculo existia muito de Deus em cada pertencimento, a firmeza de que certezas humanas eram referências incertas e o que realmente era por mim permitido era não me preocupar com distâncias, nem vazios. Instintivo, pensava comigo, construir paredes tendo dentro delas portas ou janelas. Pois era quase impossível se conceber a amplitude do horizonte e sem a ausência de arquétipos. A moldura na parede sempre ajustada pelos pequenos parâmetros de uma linha limítrofe que está entre o chão e o teto concebidos e assim começos e fins, finalidades, antagonismos e afirmações,
Depois de estar a refletir ali sentada na cadeira de frente para a minha casa, de entender que já tenho em mim um pouco de amor, levo minha cadeira de volta e depois de fechar a casa, eu volto para onde cabe o outro, e entendo que a minha mente refará todos os dias a sedimentação e isso se fará toda vez que me der ao mundo. O que promove uma dor extrema, pertinente, permanente rasgar-se por dentro o que está para o que transcende, o nada óbvio de todo universo.